Eu sou a criação

(imagem retirada da internet)

Criado para andar à direita e à esquerda.

Para crer é preciso descrer do que já foi crido
Por quem se havia perdido.
Para conversar e estar na presença
É preciso ter, do passado tido, ausência.

Os homens de minha idade
Me tratam como ninguém.
Os homens maiores
Chamam-me de Soldado Hipocrisia,
Pois já viram quem fui e me julgam hoje pelos passados dias.
Os homens menores
Que não têm sagacidade
Por menor que lhes seja a compreensão... Incoerentes e não entendem.

O mundo me chama de “Bobo”.

Pois então lhes dou a verdade a fundo
“De fato sou Bobo, sou o Bobo do Mundo,
Pois não ando, não ajo, não falo como tal Mundo.
E ando à direita margem por Deus,
E ando à esquerda margem do Mundo,
Eu vou com Ele sempre crescendo
E para o Mundo estou voltando
Sempre na contramão,
Mas posso encontra-los no caminho
E leva-los comigo,
Levá-los ao Criador.

Quanta beleza troca um cheiro bom

(imagem retirada da internet)

Certo dia ele disse gostar da menina bonita no reflexo
Namorou, beijou, fez o que fez e casou
Viveu e quando ele a olhou no espelho pela segunda vez
Ela se enrugou, chorou, por ele tê-la deixado de vez.

Certa semana outro ele demorou seus dias para conhecer
A que lhe encantou os sentidos com seu ser
Cortejou, namorou, casou por serem seus reflexos
E quando o tempo muito passou
Ele a admirou por um bom tempo pela segunda vez
Deram-se as mãos e caminharam juntos ao jardim eterno.

Cruel ela em si

Porquanto pensas que perdeste um amor

Aposta toda tua sorte num casino à beira lago

Parece-te que estar sem ele foi um infinito estrago,

Mas não lhe careceu ver que ele estava ali, a rir

Enquanto achavas que fosse dor

A espera de quem nunca chegou a dar um passo sem estar perto de ti.

O amor não acontece muitas vezes

Assim como nossos olhos deixam de ver enquanto sonham.

Não se deixe cair em pesadelos de mimeses

Acorde e vejam todos os homens num só que te amam.

O sorvete do meu amigo

(Luiz Aguinaldo Ponton Cuaglio - "O sorvete do meu amigo")

O nome do meu desenho na pré-escola fora “O sorvete do meu amigo”. Mas é incrível como em todo esse tempo eu nunca parei para entender o porquê desse nome. Naquele desenho um prédio, um sorvete maior que um prédio, um céu azul, um sol lindo, uma flor menor que o sorvete e uma árvore.

Antes de ontem eu dava mais valor no sorvete,
Ontem eu dei mais valor no prédio,
Hoje dou mais valor na flor,
Amanhã talvez eu escreva um coração a dois numa árvore.

Eu prefiro deixar um bilhete
Para não deixar o coração ao tédio
Que chora futuro pensando na cor
Do vestido de casamento que hoje me namore.

Eu já fiz declarações, contei histórias de falsas verdades, recitei mentiras verdadeiras e mandei flores com destino à má liberdade. E com tais ganhei um tapa na cara, um chute na bunda e um beijo de despedida em um pedaço de papel eletrônico.

Que será que devo fazer
Para rimar um ato e uma crueldade?
Vou deixar Deus escolher
Um romance fato, na ficção realista da eternidade.

Para o que entende, mas não entende

Desfaça tua farsa

Disfarça, disfarça
Engraxa a tua graça
E sai por aí sorrindo caipira
Desate o seu destino do nó
Ande contra o mundo
E não rima, ensina a pensar
Depois que suceder a consciência
Esqueça da ciência, brinca, brincar
Brinca de pular o choro e sorria,
é rima rica tal disforia!