- Olha pela janela procurando o que não sei.
Deveras existe amor, mas eu não sei!
Inquieta minha vontade, minha necessidade,
Aumenta a intensidade dos instantes,
Pois instantes não são momentos e muito menos esses são eternos.
Cadê a chuva que há pouco me fazia esperançoso?
Humilho a mim mesmo prostrado de joelhos ao meu coração
Discreto, chorando da ausência do calor
E mesmo que o meu corpo sue sem cessar
Eu há muito não sei o que é sentir o aroma das seduções
Se acho que gosto me decepciono
Se acho que amo, num agouro desisto,
Se gosto de amor, sou desgostoso e maldito
Se amo o que gosto assim como antes sou o vento visto.
- Larga de ser irracional e sensível
Seja brutal e raciocine!
- Mas sempre quando o homem raciocina, ele briga, xinga e mata!
- O homem só enxerga ao outro assim
E não me venha com contradições
Sempre o vi amar e dizer que o amor acontece uma vez só.
- Oras larga de ser tolo!
Talvez eu não tenha amado.
Ou então eu ame tanto que não me importe de amar.
O ruim é que jamais me senti reflexo do recíproco,
Sou sempre o fim da embalagem.
- Como você é teimoso!
A crueldade prevalece à lágrima.
Ousar discordar é loucura!
- Mas e se houver alguém que veja o valor?
- De que? Da embalagem ou o fim que deveras deve receber?
- Mas eu não sou embalagem!
Até a minha casca é conteúdo de mim mesmo!
- E de que adianta?
És transparente no mundo preto e branco
De preconceito entre si próprio
E se ousar ser azul
Ai de você se alguém não gostar de azul.
- Mas o respeito ainda existe!
Eu creio nisso.
- Não mude a conversa
Falamos de amor!
- E para ser amor não precisa ter respeito por acaso?
- Nunca fora respeitado então!
- Mas respeito!
E quer saber...
Cansei de viver de sonhos, de versicular sobre jardins ou rosas,
Vou aproveitar o tempo que me resta, viver!
Afinal, a cada dia que passa estou mais perto do meu fim.
- Falas muita besteira, homem!
Você não consegue aproveitar ou viver sem amar!
- Então que eu ame o quanto for preciso!
- E por algum acaso você aceitaria amar aquela moça que se olha ao espelho?
- E por que não?
Se eu a conhecer melhor poderia amá-la.
- Mas e se ela viesse agora e te pedisse uma chance?
- Eu aceitaria!
- Mas ela não virá. O mundo é machista, inclusive as mulheres.
São os homens que tem que dizer
E ai dele se não for rico, ou não tiver veículo.
- Falas muita asneira!
Eu sei que algum dia ela virá e dirá
E a amaria não pela sua beleza de casca,
Mas porque sei que ela é linda na alma como no corpo.
Eu vejo isso ali... Olha só o espelho... Ela se reflete e me ofusca os olhos.
- Fala como se fosse Macário!
És tolo!
- E por acaso não o sou?
Na verdade me acho a sua parte interior mais oculta
Talvez nem meu pai a saberia.
- Pobre senhor Álvarez...
- E você?
Você também é ele.
O seu problema é que ainda está discorrido em linha reta
E vive atrás desse vidro e se parece comigo na casca.
- Tu sabes o que sou!...
- E por isso o disse!
- Eu não acredito!
- Porque és assim.
- E assim é que gostam de mim. EU sou o que o mundo quer.
- Olhe!
Ela está vindo em minha direção!
Quanta sorte!
Vou amar novamente!
[E nessa hora a jovem moça passa por perto do bom,
Escreve em sua mão direita: “Futuro”,
E na esquerda: “Medo e incerteza”.
Olha para o vidro, espelho, ou o que preferir
Sorri para ele que lhe retribui sarcasticamente como homem
E ela o leva para casa.
O que poderá acontecer?
Isso depende não só de você,
Mas de todo ser humano.
E se tudo estiver mudando
O vidro do impetuoso e insensível
Virará estilhaços.
E os pequenos e felizes passos
Do que acreditava amar
Entrará no caminho da jovem que juraste amar.]