24 de fevereiro de 2011

Ela se foi

As mãos acenam o destino doravante
Sucessos e insucessos adiante
Desvios e sentimentos
Realizações e pensamentos
Apenas saudade.

Ela se foi e tomou o caminho inverso
Me escapam aos dedos a aliança
Escorre entre as frestas das mãos juntadas os sonhos
Perdem-se os tamanhos.

O desgostoso sabor da partida
Sua vinda para minha vida
Serviu de consolo por sua despedida
E os meus passos
Meus devaneios
Meus planos
Se foram na sua bagagem.

21 de fevereiro de 2011

Chuva

Caio leve e molho tudo
Cai tudo quando eu peso
Embaça o vidro e fica mudo
O passarinho que canta preso.

Quem tem teto foge
Quem não tem se esconde
Alguns que têm acendem a lareira
Os que não têm sorriem e cantam.

Saio do chão do mar
E volto pelo algodão celeste
Estou na tela do cinema num beijo de amor
Sou maravilha divina do nosso Senhor.

É vida pura e a vida pira
Tudo muda quando o céu transpira
Emana esperança e sorrisos sinceros
São pedidos meros dos que choram sob mim.

Tenho guarda e saio no sol
Tenho bolo e desço com a lua
Sou nua e no céu
Sou confete transparente
Sou amor de adolescente
Sou o triste e o contente
Sou o objeto do contraste
E mesmo que não existisse
Gritariam-me no meio da rua
Sou água, Sou chuva.

19 de fevereiro de 2011

Adocicada

É tão doce o seu cheiro
Que a fonte de chocolate não seca
E a nuvem no palito, algodão doce
É suave e te faz sorrir
Ver-te amar.

Gastei todo meu inútil
Meu interior de coisa fútil
Materiais concretos e entreguei-me
Entreguei-me ao discreto
Discreto e sincero
Um toque, um arrepio.

Um mais um é dois
E é tão óbvio que me apaixonei
Foi tanto o brilho dos teus olhos
Que me fez chorar
E você me acolheu
E eu fiquei contente e te amei.

Golfinho


Guardo a solidão pra depois
Pulo da água e respiro o ar dos homens
Sou dócil e doce
Sou peixe, mas falo a mesma voz
Sei sentir enquanto estou a sós
Com alguém que sente a minha voz.

Meus sussurros debaixo d’água
São beijos imersos na piscina
E o mar que nadamos tem ondas intensas
E o rio pelo qual é o destino é lacrimoso
São lágrimas de amor.

Peço perdão com um gesto de gratidão
Ouço seu choro e te consolo
E saio do mar só para te salvar
E quem sabe assim não possa ser
E eu não possa sonhar
Em estar sempre com você.

E vou refletindo, mas não o reflexo da água
Mas o reflexo dos meus atos,
Pretensão dos fatos,
E nado até o outro lado
Só para te encontrar.
Sou golfinho à tua espera
Sou peixe, sou homem,
Meu fetiche é sobrenome,
é te amar.

17 de fevereiro de 2011

Um alguém

Foi debaixo da cascata
Que vi o sol batendo o chão
A água limpa caindo inata
E o arco-íris se formando no céu.
O barulho das folhas apontando o caminho
Que o vento escolheu para ser meu destino
Encontrar entre os sonhos o motivo para acordar
Perceber sentada a mulher que tomou lugar
Nos delírios de um louco alucinado
Desastrado e engraçado
Por meras bobo, futuramente apaixonado
Ontem lobo e hoje cordeiro por ter lhe encontrado
Os cabelos ouro e o espelho nos mostrando no mesmo lado
Um sorriso tolo sinceramente compartilhado
Um devaneio que me parece ter lhe conhecido
Em outra vida e ter lhe amado
Não é possível que eu esteja errado
Vou falar contigo que está do outro lado
Venha comigo
E viva feliz por não estar sonhando
E viva feliz por ter alguém lhe amando
E durma feliz por eu estar, de hoje em diante, ao seu lado.

14 de fevereiro de 2011

Sorveteria Realidade

Eu poderia deitar a cabeça no travesseiro e descansar
Sonharia com uma vida feliz e um amor
Tentaria fazê-la feliz a cada segundo
E ela nunca saberia o que é dor.

Eu poderia fingir que são sonhos
Enquanto a realidade está à tona
Mas poderia me esquecer de pisar no chão
E a nuvem não ser de algodão.

Eu poderia simplesmente não existir
E ninguém teria que sofrer por mim
Mas seria tão triste me ver assim
Sem ser visto por ninguém
E não poder fazer alguém feliz.

E de pensar que tudo poderia acontecer
Que as nuvens poderiam não ser de algodão
E eu poderia nunca pisar mesmo no chão
Mas em ter um amor do lado
Um sentimento compartilhado e multiplicado
um carinho no rosto e estaria tudo mudado
Um sorvete sem parar e o quente viraria gelado
E eu poderia sentar ao seu lado
E fazê-la sorrir.

A realidade me impede de sonhar
A beleza nunca está no coração
Os meus olhos dizem muito mais
Que uma simples conta na sorveteria
E eu bem que queria
Que todo o doce do sorvete
Fosse um pedacinho de você que entra em mim.

13 de fevereiro de 2011

A segunda dança

Vê-la dançando e as luzes focando seu astral
O seu gingado traduz as telas de cinema
Confunde os corações partidos ao seu redor
Seu vestido brilha com a luz com a qual nasceu
Seu semblante entrou em minha cabeça e me perdeu.

Estava bebendo para esquecer as torturas da sobriedade
Chorando em um canto disfarçando dos olhares
De repente ela para de dançar e me olha penetrante
Enquanto deliro, ela vem
Enquanto suspiro ela tem
O jeito doce que o menino quer
Para esquecer-se do passado e sorrir por alguém.

Bastou uma palavra de consolo para perceber
Que ela sofria sem merecer
Dançava vislumbrante para não parecer
Que se sentia um nada por não ser amada
Que me via sentado na calçada
E sabia que eu sempre olhava
Tentando enxergar o seu íntimo
E não percebendo, a cada vez
Ficava mais íntimo.

Duas horas de solidariedade
Dois beijos e uma saudade
De dois minutos para pegar uma bebida
E depois de vencida
A dança passou a ser completa
Quando os dois corpos, agora em sintonia,
Deixavam o palco para o público que sorria,
E iriam para a estrada única de duas vidas.

Às vezes pensamos que tudo está perdido
Mas quando paramos a música
Percebemos a melodia do outro lado da pista
E se formos atrás da nossa coreografia
O tempo nunca será em vão
E os sonhos nunca serão perdidos.

Nada convencional

Entregar minha alma ao tempo
Dos acordes infalíveis e a desordem dos culpados
Depredados a todo momento
E deixarem sua sobriedade pelos desacordados.

Falo da inocência de sermos brasileiros
Achar que a última hora é a melhor
Enquanto perdemos todas as outras...
Falo da incompetência da mente insensata
Transforma-nos em desacreditados e forasteiros
Vejo o que passamos e não agimos por dó
De nós mesmos...
Falo de subir no palco e gritar por socorro
Tentar. fazer e enxergar os verbos que usamos para matar
E nos matamos sem nos entregar
À causa que nos corrompe do mar ao morro,
Do baixo ao alto... Do mendigo... Ao planalto.

Entregamos a Deus e nos entregamos ao nada
Ele não tem culpa...
Somos nós que achamos que os outros são os nossos pés
Somos nós que lavamos o convés do navio
E nos prestamos a trocar nossa saúde por moedas de metal.

Por fim nos entregamos pela invalidez
De gente como vocês
Que sabem falar, hipócritas e vergonhosos
Os meus sonhos, hoje, distantes
Mostram que daqui para frente serei a escuridão na luz
Pois vocês se acham iluminados e são todos ordinários
Tratamos então de nos separarmos
Eu vou lutar contra gente que nem vocês
Vou lutar contra o mundo e os otários
Vou buscar aos dicionários por palavras que me façam agir
Vou surgir e não vou mudar, vou  fazer o que ninguém sabe
Vou saber amar... E me amar.

12 de fevereiro de 2011

Quem não conheço

Descreva-me em dez versos
Que a descreverei em apenas um
Decifra-me e os meus segredos
Podem não ter segredo algum.
Acordar nunca foi o problema
Mas quando for problema será pela última vez
E o olhos fechados nem sempre foi o fim
Pois abertos encontraram de frente com o que o homem faz.
Esqueço das palavras e me lembro de você
Mas só lembro mesmo porque não consigo esquecer
No décimo primeiro verso você nada fez
É impossível descrever quem ainda é irreconhecível
Mas sei descrever você. Não me aceito se errar
Você é a mulher que conheci e vou me propor a amar.

10 de fevereiro de 2011

Queria saber

Eu queria saber como é
Ter uma vida de passarinho
Nascer do ovo e viver no ninho
Sair voando. A liberdade foge aos meus pés.

Não queria ser pombinha da cidade
Que parece livre
Mas come as migalhas que lhe jogam por piedade
E o que lhe resta, engolem os restos.

Quero ser beija-flor
Que ama sem saber
Beija a flor que escolher
Sente sede e sente amor.

Não gostaria de viver enjaulado
Viver da vontade de alguém
Ter água e comida,
Mas não ter ninguém.

Então vou procurar um lugar para me encontrar
Descobrir as asas que tenho
Desvendar os segredos do ar que possuo
Pousar nos galhos, assobiar no muro
Cantar melodias da chuva a passar
Ser o sonho da felicidade, o sabiá.

8 de fevereiro de 2011

Homem de meia vida

Olhando para o chão
Dou mil voltas ao meu redor
E olho mil vezes para o mesmo lugar
E sinto-me inato.

Vejo o homem todo em meio coração
Escravizado pelo suor
Sem tempo parar correr e amar
Sentindo-se inapto.

Gasto o tempo morrendo pela ganância de alguém
Saio dali e volto para o meu mundo, família e amigos
Manhã e tarde me sinto vivendo por ninguém
À noite volto aos sonhos que acredito.

Não há nada que possa voltar
A não ser o trem das três para a estação
Procure alguém por quem amar
Não se encaixe na solidão.

A vida tem cheiro de dominó
Monta no passado e desmonta no presente
E o futuro é um só e eu sei
É o que você quiser ter.

Não há nada que possa voltar
A não ser o trem das três para a estação
Procure alguém por quem amar
E ela sairá de algum vagão.

Procure alguém por quem amar
E ela sairá de algum vagão.
Não se canse de procurar.
Nunca se canse de esperar.

6 de fevereiro de 2011

Encontro por acaso

Perdi meu sono pensando em sonhar
Caçando o vento que te levou embora
Talvez, e foi a hora de me desorientar
Nem a bússola de bolso eu tenho mais
E as horas do relógio esqueci de ver
E os ponteiros mudaram.

Os olhos semicerrados
Atordoados olhando no espelho
E os meus beijos se refletem na solidão.
Vou me trocar e sair
Vou me sujar de loucura e fugir
Vou encontrar alguém só para amar
Vou chorar por quem quis partir
Vou viver em outro lugar...

Vou nadar só para salvar
Aquele amor de uma noite só
E quem sabe, no meio da madrugada
Quando o mar eu atravessar
Nós não possamos deitar na areia
Eu ser Netuno e você... Sereia.

Vou sair com o perfume pelo quarteirão
Vou dar amor para uma pessoa só
E numa noite só
Vou encontrar um amor pra vida inteira.

Vou nadar só para salvar
Aquele amor de uma noite só
E quem sabe, no meio da madrugada
Quando o mar eu atravessar
Nós não possamos deitar na areia
Eu serei Netuno e você... Sereia.
Quando o mar eu atravessar
Nós não possamos deitar na areia
Eu serei Netuno e você... Sereia.
E você... a minha Sereia.